sábado, 2 de julho de 2011

Contos De Horror

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Max Ventura contra o sumiço de Von-Sidonw

 Introdução:

11 de dezembro, 2007. Cinco e quinze da manhã, final do ano, a capital está vazia, a preferência dos paulistanos nessa época do ano é a praia.
Eu acabara de deixar de ser investigador, a maioria conhece os investigadores como policiais civis.
Larguei meu cargo público para começar meu próprio negócio.
Lembro bem que naquela madrugada de segunda-feira eu estava parado na esquina da Av. Paulista com a Brigadeiro, olhando o prédio onde estava o “apê” que aluguei no 15º andar.
Chovia muito naquela madrugada, atravessei calmamente, quase não passavam pessoas ou carros nas duas avenidas, alguns ônibus cruzavam a paulista rápido demais para um dia de chuva.
O vigia naquele prédio antigo, caindo aos pedaços, me saudava com um meio sorriso. Me dá um bom dia, ele tinha um bigode branco com pontas amareladas pelo café que devia ter tomado em algum bar ali perto.
Dá as costas para mim e abre as imensas portas do local comercial, o Sr. Sidnei (o vigia) usava uma capa de chuva transparente, na sua camisa, atrás, estava escrito vigilância particular, também tinha sapatos tão bem engraxados que dava para se ver neles, com V.S. gravados na língua do sapato. Muito caros para um vigia.
Quando entrei senti um frio na espinha e aquele cheiro de sangue que o centro da cidade de São Paulo tem.
Sacudi meu sobretudo bege espalhando a água que havia em mim.
Outro rapaz chega enquanto eu espero o elevador.
Muito bem vestido, jovem, de 22 a 25 anos no máximo.
Seu guarda chuva era tão preto quando seu terno.
Era um advogadozinho corrupto, seu nome era Mateus.
Seu Sidnei tinha me dito tudo sobre esse escroto. Além do mais o cara era racista. Não ia dividir o elevador com um racista.
Puxei um pouco o sobretudo para ele ver minha 32 no coldre. Entrei no elevador e ele disse que ia no próximo.
Mateus, o advogado, não deixou de subir porque eu sou negro ou porque estou armado, mas sim porque sou negro e estou armado. E tenho postura de policial.
Os bandidos pés de chinelo que ele defendia não iam entrar mais no escritório dele, que por acaso era no mesmo corredor que o meu.
Quando a porta se abriu no 15º andar, no chão notei um chapéu do melhor estilo Dick Tracy.
Modéstia a parte ficou ótimo em mim.
Lá estava eu parado de frente para meu “apê” no Nº 43, com uma porta de madeira velha, com parte de vidro com persianas pela parte de dentro.
Eu coloquei um adesivo da esquerda para direita e tirei da direita para esquerda.
Assim ficara gravado na porta do meu escritório:
Max Ventura Detetive Particular.

A cliente sedutora e misteriosa

Na verdade meu nome de batismo é Marcos Carlos Venturano e Silva Filho, cá entre nós, não é um bom nome para um detetive, não é?
Nos anos 80 lembro-me que fui ao cinema com meu pai. Meu falecido pai (que já era bem velho na época) e eu ficamos fissurados por um filme de ação.
Hoje mal recordo o nome do filme, mas o nome do herói era forte e mostrava que ele era osso duro de roer.
Então adaptei o nome do herói do filme ao meu e também as duas primeiras letras do nome coincide com as duas primeiras as duas segundas letras do segundo nome dele. M e A.
Assim surgiu Max. Também sempre fui fã das aventuras do detetive Holmes, adaptei aventuras a Venturano, não precisei mudar muita coisa.
Assim surgiu Ventura.
Mudei em cartório meu nome e agora sou oficialmente Max Ventura.
Meu escritório era típico escritório de um clássico detetive inglês, passando pela primeira porta você se encontrava em uma sala pequena, com um cabide ao lado esquerdo onde eu pendurava meu chapéu, via-se uma porta igual à primeira a sua frente, a primeira salinha tinha muitos papéis e documentos empilhados por todos os cantos, uma mesa pequena com alguns materiais de fotografia jogado em cima dela, bem próxima a porta do lavabo, já ao outro lado da sala tinha uma mesa maior com uma antiga maquina de escrever, não havia computadores ali.
Próximo à esta mesa tinha um sofá de coro marrom, bem velho todo arranhado pelas unhas do Marshall.
Marshall era um gatinho preto que eu tinha achado ainda filhote há um ano, batendo na janela de minha casa, o deixei entrar, dei leite, o coloquei para dormir em uma caixa de papelão e pus em baixo da minha cama.
Acabei me afeiçoando a ele, agora Marshall mora no escritório, é como um gato de guarda.
O ventilador ligado ao lustre da primeira sala fazia tanto barulho que parecia que iria cair, já na segunda sala, o meu escritório, tinha uma janela enorme onde dava para ver toda rua.
À frente da janela, minha mesa, que tinha um abajur que talvez fosse coisa mais sofisticada do local.
Também era uma sala pequena e clássica, e era tão escura que lá dentro tudo parecia ficar preto e branco.
Ah, sim claro, e com poltronas de um lugar, de frente para minha mesa, iguais a da primeira sala, mas minha sala por sua vez tinha um banheiro, muito maior, com um ótimo chuveiro, que nunca esquentava.
O capitão Salgama do GOE era um grande amigo meu e a mulher do capitão Marcio Salgama, tava torrando a paciência dele para ele arrumar um emprego para o filho mais novo.
Um de meio período. Bom, com isso eu arrumei um aprendiz na profissão.
O Erik era um pouco atrapalhado, mas era um bom garoto, ele tinha acabado de fazer dezessete anos e eu dei para ele uma dessas máquinas de tirar fotos antigas e instantâneas.
Com aqueles grandes fachos de luz em cima.
Eu sou um fanático incondicional de histórias policiais. Erik só podia trabalhar a rigor.
Boina, sapato, até um colete com um relógio de bolso.
Quando ele entrou na sala para seu primeiro dia de trabalho com o cabelo jogado ao lado cheio de gel, a máquina enorme no pescoço e um sorriso idiota na cara, parecia mais um mafioso carcamano do que um brasileiro mal remunerado.

-Erik, se apresentando para trabalhar, senhor.
-Elementar, elementar.
Nossa, eu estava me sentindo realizado.
Eu estava vivendo uma de minhas historias prediletas.
Agora só faltava eu ascender meu charuto (já que não tinha um cachimbo) colocar meus pés em cima da mesa e esperar o primeiro cliente entrar.
Foi então que ela apareceu.
De primeira pode ver somente a sombra de metade seu corpo pela janela da porta.
Virando a maçaneta bem devagar, ela entrou. Cruzando as pernas uma à frente da outra com muita elegância.
Era o tipo de garota que nunca passa despercebida, pernas compridas e finas, sapato Prada vermelho da mesma cor do vestido e chapéu imenso, unhas bem feitas e compridas, óculos grandes para um rosto pequeno e delicado, pele bem branca, sem marcas e um cabelo liso e loiro.
Erik chegou a cair da cadeira quando ela entrou para meu escritório.
Sentou-se e cruzou a perna direita sobre a esquerda tirou os óculos devagar, e pude ver aqueles grandes olhos azuis, que só chamavam menos a atenção por causa de seu decote ousado.
Marshall pulou do meu colo para o chão, ela pegou a plaquetinha com meu nome escrito, leu e se direcionou a mim.

-Max Ventura?
-Sim senhora.
-Débora Marsú Von-Sindonw

Ela estende a mão e aperta a minha com as pontas dos dedos, o que mostra um desvio no seu caráter - podemos dizer muito num aperto de mão.

-No que posso ajudá-la?
-Meu marido. Meu marido desapareceu há três dias, fiz um B.O na 52° D.P, mas nada parece ser feito a respeito. Quero descobrir o que realmente aconteceu.

Então ela me passa um envelope com fotos recentes do marido. Um senhor que devia ter uns 72 anos e ela uns 25 a 26 anos.

-Alguma possibilidade de existir outra mulher? (ela ignora a pergunta e responde como se tivesse perguntado outra coisa).
-Alexsander tinha algumas propriedades, algum dinheiro no banco e muitas dívidas, mas ele tinha guardado algum dinheiro, em um cofre onde somente ele sabia a senha, ele dizia ter próximos a um milhão de reais guardados, e mais algumas joias de família, o dinheiro era da venda de sua empresa de sapatos. Esse dinheiro sumiu. No mesmo dia que ele. Junto com seu carro. E o cofre foi encontrado pela Helena, nossa empregada, aberto.
-Além do dinheiro havia uma herança?
-Tudo dividido justamente no testamento, do qual sou testemunha.
-Qual a placa? Cor? Marca desse carro?
-A placa é igual a todos os carros dele está escrito Von-Sidonw, a cor é branca, e a marca eu não saberia dizer, não sei nada sobre carros. Só quem entende de carros naquela casa era ele e sua sobrinhazinha.
-Alguém poderia querer matá-lo? (percebo certa rivalidade com essa tal sobrinha, mas ignoro por hora).

Nesse momento a viúva pegou outro envelope com cinco mil reais, e jogou sobre a mesa, como parte do pagamento, mais gastos.
Diz que no envelope também encontrarei um número, caso eu precise achá-la.
Um pouco nervosa após eu perguntar sobre alguém querer matá-lo. Ela apanha seu guarda chuva preto ao canto da sala e sai vestindo seu casaco, que ao entrar estava em seus braços.
Tentei alcançá-la, mas parece que eu estava sempre um segundo de atraso dela.
Pude ver a ponta do casaco cruzar a porta para o corredor e ver a ponta do casaco cruzar a porta do elevador.
Corri pelas escadas pulando alguns degraus para chegar antes do elevador.
Quando cheguei ao térreo o elevador estava vazio, caminhei o mais rápido possível para a avenida, e acabei torcendo o pé esquerdo, afundando- o numa possa de água, naquela calçada molhada da chuva, com o céu aberto e um sol escaldante na avenida movimentada.
Nenhum sinal da mulher misteriosa.

-Sr. Sidney, a garota loira que chegou a pouco, passou por aqui?
-Me desculpe, eu não a vi sair.
-Você já tinha visto esta mulher aqui antes?
-Ela é minha sobrinha, não tenho muito contato com ela, mas todos ficaram sabendo do sumiço de seu marido, então indiquei para Débora vir aqui, falar com o senhor, Ventura.
-Ela assinou o livro de registro
-Como todos. Sim.

Virei o grande livro, velho, de páginas amarelas com uma caneta presa a um barbante para mim.
Ela havia assinado com as iniciais dos dois primeiros nomes e o sobrenome.
D. M. Von-Sidonw.

-Você disse que todos ficaram sabendo do caso do marido dela.
-Sim, passou na tv o dia todo, o grande milionário Viktor Johanson Alexsander Von-Sidonw, foi dado como desaparecido.
-Obrigado.

Agradeci e entrei no elevador para voltar para meu escritório.
No chão, eu avistei um cartão do advogado Mateus “pé de chinelo”.
Qual seria o interesse desse advogadozinho na minha cliente?
Com certeza ela que deixou isso cair.
Quando o elevador abriu no meu andar, não pude deixar de trocar um olhar com outro vagabundo na porta do escritório de Mateus.
Algumas tatuagens de tinta esverdeada no pescoço e na mão, pele queimada do sol, barba mal feita e cabelo ruim como sua barba de aparência suja.
As ondulações, no esqueleto de sua face, não negavam o uso de drogas.
Olhava-me de cima para baixo com braços cruzados, acariciando com a mão direita o bíceps esquerdo.
Mateus estava de costas para mim, ele me olhou por cima dos ombros, esfregava os dedos das mãos, como quem sente medo ou está nervoso. Cochichou no ouvido do outro rapaz e entrou.
Algum tempo, sem demora, ele seguira Mateus para sua sala.
Fechando a porta devagar sem parar de me encarar.
E eu não fiz por menos. Não desviei o olhar.

-Erik?
-Sim.
-Você viu algo na tv, sobre Viktor Johanson Alexsander Von-Sidonw?
-Claro, está passando sem parar na TV.
-Quero que faça algo para mim, descubra tudo o que puder sobre o material que passou na TV.
-Tudo bem. É fácil, só preciso ir a alguma lan house e baixar todos os vídeos.

Dei um dinheiro a Erik e fui sentar em meu escritório.
Espalhei as três fotos de Viktor sobre a mesa mais o telefone de sua bela, misteriosa e intrigante esposa.
Peguei meu charuto e encostei-me à cadeira virando para a janela atrás de mim.
Eu sabia que a policia não devia estar investigando nada.
Eu tinha em mãos meu primeiro caso.
Peguei uma ficha no armário, e fiz minhas primeiras anotações de registro de arquivos de caso.

Caso: número 01.
Caso: 500 motivos para se sumir com um milionário.
Prólogo: Max Ventura contra o sumiço de Von-Sidonw.  
     
Procurando pista com lupa

Minha primeira procura pelo milionário Von-Sidonw foi no DHPP.
Quando descia a Avenida Consolação pude notar o que Erick falava, todas as televisões dos bares falavam o nome do desaparecido.
Em um dos bares passava Débora chorando, clamando por  notícias. No DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) tudo foi “tupikós” *... Típico, comum.
Identificação com a funcional passando a catraca, uma atenção especial ao quadro de casos da policia civil na entrada, os vários elevadores sempre cheios para as variadas divisões policiais. Desço no quarto andar de um elevador apertado, de meu lado esquerdo a divisão de homicídio e do direito, divisão de proteção à pessoa.
Com passos lentos em um corredor calmo, somente abalado por um pequeno “bate boca” * com uma gang no fundo do corredor.
No setor do DECRADI (Delegacia de Crimes Raciais e delitos de  Intolerância).
Na última sala da divisão de proteção à pessoa.
A investigadora do local fez o processo padrão, e entrou em contato com os IMLs (instituto medico legal), e SVO-c (Serviço de Verificação de Óbitos da Capital / central), ou entradas em albergues e P.S (pronto socorro).
Eu só tinha que voltar para o apartamento e esperar o que Erick recolheu e também esperar a investigadora do DHPP me ligar e dizer o que descobriu.
Subi a Avenida Brigadeiro Tobias pensativo, olhando para os indigentes dormindo em caixas.
Com uma pequena esperança de achá-lo, com um surto de memória.
Entrei pela porta da minha sala e liguei a velha tv cheia de eletricidade estática e chuviscada, quem sabe passasse algo.
Deixei a tv ligada na sala principal e sentei no meu escritório, Marshall pulou no meu colo e dormiu enquanto eu acariciava atrás da sua orelha.

-Max
-Erik, conseguiu alguma coisa?
-Sim, olha, eu trouxe tudo impresso, parece que é o tal.
Viktor Johanson Alexsander Von-Sidonw, era sueco de uma família de berço de ouro, tinha uma grande empresa de sapatos, estava falido mesmo, faliu de tantas dívidas de seus três filhos e tinha alguns inimigos dentro da família.
-E quem são?
-Linnea Ida sua ex-esposa, que foi traída e trocada por Débora, ela tem alguns problemas com álcool, o que para ela é redundante, pois ela é uma especialista em vinhos e uísque e também é especialista em culinária exótica, com um grande conhecimento em peixes, e até tem alguns livros bem vendidos sobre esses dois assuntos.
- Arthur o filho mais velho, Bruno o do meio e Isabella a mais nova, brigavam muito com ele por querer deixar parte da herança para Nina, sua única sobrinha, filha de uma irmã que faleceu por conta de câncer no pulmão.
Nina, que foi criada por ele, é uma profissional em um clube noturno, na rua augusta...
-E o que ela faz nesse clube?

Erick me olhou com cara de cachorro desentendido e respondeu:

-Talvez ela venda pãozinho.
-Ah... Tá, entendi, claro.
-Ou talvez ela seja da “ONG doe roupas” por isso ela fica sem nenhuma.
-Tudo bem, tá certo.
-Talvez ela seja representante dos cosméticos “Juquiri”.
-Hum.
-Ou talvez ela seja uma blogueira dedicada.
-Elementar, vamos voltar ao caso.
-Pode ser que ela pinte listras pretas em cavalos brancos e os nomeie de... zebras.
-Erick.
-Quem sabe ela esteja escrevendo um livro de um detetive Brasileiro que acha que é inglês.
-ERICK.
-Ou talvez, e esse para mim é o mais provável, ela estivesse investigando o sumiço do tio, e começou, procurando pistas com lupa.
-ERICKKK...
-Cale a boca, Volte para a lista de inimigos do Von-Sidonw, por favor.
-Desculpe Max, eu me empolguei.
-Que seja. Continue.

O telefone de cor preta, com os números em forma circular que ainda era giratório para discar, tocou antes de Erick terminar a lista.
Era do DHPP. Ouvi atentamente. Erick senta, Marshall acorda pula de meu colo e se espreguiça deitando as patas da frente, se acariciando na perna do garoto em seguida.

-Tivemos noticias da busca nos IML
-E então?
-Temos um corpo, com as descrições. Sem identificação.
-Pegue esse numero, ligue para Débora, diga que temos um corpo com a descrição e para ela não falar com ninguém. Não quero a mídia em cima disso
-Tudo bem, chefe, vou ligar.
-Vou pedir ao Sr. Sidney para nos chamar um táxi, a encontraremos no IML.
-Tudo bem, mas Max, antes de ler a lista toda para você vou te adiantar o último e mais interessante nome da lista.
-Quem?
-Nosso vizinho, advogado.
-Mateus
-Sim, ele era advogado do falecido, e vivia tirando Arthur da cadeia, por crimes leves porte de drogas, pequenos frutos.
-Um filho viciado?
-Pois é.
-E com muitas dívidas com traficantes. Esse sem duvida é o mais problemático dos três filhos.
- O que não deixa os outros para trás, já que Bruno viveu pela empresa que faliu, e culpa muito o pai por isso, mas ele mesmo apesar de trabalhar muito nunca pagou nenhuma de suas contas, porém de todos os filhos é o único que sabia fazer dinheiro e não gastar. É claro que estou falando de não gastar o dele e não o do pai dele.
- E Isabella que gastava uma fortuna em baladas, psicólogas e psicanalistas, e ainda ficava muito tempo viajando pelo mundo estourando cartões de crédito.
- Vou ligar para a viúva e te conto mais no caminho.

Marido morto não é traído

Na porta do necrotério, esperava Débora, enquanto via sem acreditar como Erick conseguia se atrapalhar tanto para tirar um doce de uma dessas máquinas.
Uma limusine branca, com motorista uniformizado para na minha frente, o motorista abre a porta, e com um vestido branco como o carro e um brinco enorme de pedras valiosas na orelha, disse Débora.
Acompanhada com um grandalhão, com uma tatuagem de uma ave no pescoço.
Os dois se beijam como se os corpos pegassem fogo, e ele diz baixo olhando para mim que iria esperá-la no carro.
Erick volta ao meu lado com os braços cruzados cheios de doces.

-Quem é o gorila? Beijando ela?
-Marido morto não é traído.
-Ou não é mais (ambos falam ao mesmo tempo)

Débora se aproxima, acende um cigarro.

-Vamos?
-Claro, mas não pode entrar fumando.
-Tanto faz.

Ela joga o cigarro contra a parede atrás de mim, mostrando seu stress.
Erick não podia entrar na sala.
Ao passarmos pela porta, era como se tudo virasse um filme de cinema mudo, com cenas rápidas, exageradas e fortes. Expressões vindas do necropsista, com seu delineador realçando o formato grande de seus olhos. E a garota misteriosa parecia a inocente dama de roupas brancas e biquinho fino, de traços pequenos, como se tivesse aquele leque para tampar o rosto, enquanto o insano necropsista, amigo meu de algum tempo, beija a mão dela como cumprimento.
Ele abre a gaveta onde o corpo está como se apresenta uma obra de arte.
Puxou o lençol do corpo devagar, e a confirmação do corpo veio, com Débora escondendo o rosto e disfarçando suas lágrimas de crocodilo.
O que silenciosamente, o necropsista e eu concordamos com olhares, que era falso.
Antes de sair ela olha para trás por cima dos ombros, tudo fica escuro e o foco é nos seus olhos que carregam uma faixa de luz branca.
Seguindo nosso cinema mudo, o necropsista e eu apertamos a mão de forma rápida e exagerada de novo.
Coloco meu chapéu e naqueles letreiros com letras góticas escrevem a frase: “até logo, amigo, foi de grande ajuda”.
Saio de sua sala e na minha mente tudo ganha cor e som.

- Quem foi a ultima pessoa a estar com Von-Sidonw?
- Nina (diz Débora com desprezo).
- É melhor falar com ela, mas acho difícil achá-la, ela vive mudando de clube noturno.
- Tenho uma idéia de onde ela esta. Vou interrogá-la e entrarei em contato com você. Quero marcar com algumas pessoas e falar com todos vocês antes que a morte de Von-Sidonw caia na mídia.
- Esperarei a ligação, Max.

Um beijo ao lado da orelha esquerda, ela me dá um leve assopro me dizendo para tomar cuidado com Nina, ela é uma víbora sedutora.
O brutamonte tatuado abre a porta para sua amante que nos joga um beijo a distancia e entra no carro.
O sujeito nos olha, arruma a fivela do sinto e segue caminho na limusine.

- Então Max, era o velho?
- Sim. O próprio.
- Ela não parece estar muito triste.
- Não mesmo.
- Qual a causa da morte?
- Vamos comer e te conto tudo.
- Depois de almoçarmos qual o próximo passo?
- Vamos falar com Nina. Você tem o endereço de trabalho dela?
- Sim.
- Será que nessa eu posso entrar? Sabe, tirar algumas fotos para o caso.
- NÃO!!!

Entramos no táxi e seguimos a caminho do centro da cidade.

- Tomara darmos sorte de ela ainda estar lá.

Serpente sedutora

Na rua do trabalho da sobrinha de Von-Sidonw, Erick ficou com o táxi.
O “cabaré” onde trabalhava a garota era comum para aquela região.
Uma frente espelhada e um segurança que não deveria ter formação de vigilante e estava levemente embriagado, gritando para atrair público. Coisas como: entrem, só tem garotas de família, são tudo apertadinhas, apertadas com a conta da luz, da água, com o aluguel, entrem e ajudem elas a pagar as contas.
Um outro na porta tão magro que não aguentaria separar uma briga.
Alguns vasos de flores baratas.
E o cheiro de cigarro era forte.
Converso com um rapaz com roupas coloridas e vários anéis e correntes, ele tinha sotaque diferente, provavelmente sulista e me olhava por cima dos óculos escuros.
Identifiquei-me, e apesar da dificuldade de nos entendermos devido a música alta, João Dejandero (dono do local que me atendia), ele me diz para entrar e que Nina irá dançar.
Uma garota mais velha que trabalha no local me serve um refrigerante com gelo, enquanto eu sentava em uma das poltronas com uma mesa pequena, ela devia ter uns 35 a 37 anos. O que já é velha para aquela profissão.
A mesma fala no ouvido de uma garota que mal posso ver atrás de uma divisória do palco olhando para mim.
Possivelmente, Nina.
A música muda para uma melodia mais lenta que acelera a cada compasso da letra.
As luzes diminuem. Uma garota de estatura baixa e cabelos rosa e curtos, muito magra, mas de corpo bem distribuído e atlético. De saltos altos pretos, uma roupa de oficial da lei, e capa, que escondiam uma lingerie de camuflagem de serpente.
Os ombros acompanham o ritmo da música, ela vira olhando direto para mim. Com um andar sensual ela se aproxima do pole dance.
Quando pula e rodopia nele, pequenos fogos estouram atrás do palco e a música fica mais rítmica, os fogos diminuem atrás do palco.
Sua roupa sai do seu corpo em meios de gritos e mesmo assim aqueles olhos negros e pequenos com maquiagem escura e puxada como oriental, não saiam de mim.
Nina empurra a mesa e dança na minha frente, devo admitir que por alguns minutos minhas ideias se embaralharam, o seu corpo gira levemente sem deixar de esbarrar no meu deslizando suas costas no meu peito.
Puxando com a mão esquerda meu rosto contra o dela e pondo minha mão em sua cintura sem parar de se mexer.
- Soube que queria me ver. Não me lembro de ter saído com você.
- Não é nada disso.
- É a primeira vez, comigo?
- Não, quero apenas conversar.
Nina se vira com as mãos no meu ombro sem para de dançar senta no meu colo.
- Que tipo de pervertido é você
- Não é isso.
- O que é então?
- È sobre o desaparecimento de Von-Sidonw.
Sem sair do meu colo, mas sem dançar agora, com o mesmo olhar nos meus olhos.
- Acharam ele?
- Sim.
- Como ele esta?
Só respondi fazendo sinal com a cabeça dizendo não.
Antes do fim da música, ela agarra suas roupas e vai para um quarto improvisado de camarim nos fundos.
Segui atrás dela, ela tirava as lágrimas dos olhos.
O lugar parecia um trailer de uma estrela de teatro com tantas luzes.
- Sei que não é hora, mas precisamos conversar.
- Quem é você?
- Meu nome é Max Ventura, sou detetive e fui contratado por Débora para descobri o que esta acontecendo.
- hã... Débora é uma oportunista.
- Você foi a última a estar com ele, não é?
- Podemos conversar lá fora? Se puder me esperar eu já estou de saída só vou me arrumar
- Tudo bem, estarei lá fora.

Do lado de fora paguei o táxi e falei para levar Erick para casa.
O serviço dele por hora estava feito e teríamos um dia cheio pela manhã.
Nina saiu com umas duas horas de atraso com uma saia vermelha chamativa, curta com um casaco de pele marrom e uma bolsa pequena bem cafona de pano de oncinha.

- Vamos, você esta de carro?
- Meu carro esta no mecânico.
- Que carro você tem?
- Um Chevrolet 1939 preto.
- Um Chevrolet? O que você é um tiete de Raymond Chandler*
- Vamos andando (com um sorriso no rosto).

Subimos a rua augusta e desviamos em alguma rua qualquer sentido frei caneca, foi esclarecendo algumas coisas a ela sem revelar muito.

- Estou te dizendo, ali naquela família, tudo pode acontecer.
- O que fizeram a ultima vez que se viram?
- Ele me deixou na porta da faculdade, ele achava mesmo que eu vinha para o centro estudar.
- Ele falou algo relevante?
- Não. Mas eu sentia que ele queria conversar. Ele ficou me perguntando sobre vida após a morte, se eu acreditava em Deus.
- Mas ele não foi claro, eu sei que algo o incomodava.
- Tem uma coisa. Não sobre Von-Sidonw, é sobre mim. Eu vinha recebendo ameaças, cartas deixadas nos clubes onde trabalhei, escritas de recortes de revistas dizendo que iriam revelar a Von-Sidonw minha profissão.
- Algum suspeito?
- Não, mas tem um cara que me seguiu nas últimas semanas, me dava arrepio. Ele tem algumas tatuagens de tinta esverdeada no pescoço e na mão, pele queimada do sol, barba mal feita e cabelo ruim como sua barba de aparência suja.
As ondulações, no esqueleto de sua face, não negavam o uso de drogas.
- Gostaria de ver as cartas.

Nina tira as cartas amassadas da sua bolsa e me entrega, todas, amontoadas.
E eu olho rapidamente e guardo no bolso de dentro do meu sobretudo.

- Quando estive com Débora hoje ela estava com outro homem. Alto, forte com uma tatuagem no pescoço quem é?
- Douglas, o amante dela, o cara é um porco, ele trabalhava para meu tio como segurança particular de Débora.
- Um VSPP (vigilante em segurança pessoal privada).
- Ele foi indicação do advogado.
- Mateus?
- Você o conhece?
- Digamos que sim.
- Por que você trabalha com isso? Seu tio te considerava uma filha, você não precisa disso.
- Não me julgue, acha que não vi como me olha? O que espera, uma historia triste? Pois ela não existe faço por que gosto e gosto do que faço. Então, se vai me julgar, pelo menos finja não estar interessado.
- Por que acha que me interessaria por você? Meu interesse é no caso.
- Vá se ferrar.

Nina me deixava de fato nervoso, uma mistura de raiva com atração. Sabia que o veneno daquela serpente era fatal por me deixar sem os meus sentidos só por sentir seu cheiro.
A provocação quase me fez perder o controle, peguei-a pelo braço e encostei contra a parede entre um banca de jornal, naquela rua escura e fria deixando a situação mais atraente pela beleza destruída e poética do centro, que é bonito e ao mesmo tempo assustador.
Seu ronronar ao sentir minhas mãos segurarem ela com força foi impulsivo. Sua perna esquerda travava minhas costas contra seu corpo.
Minha boca se perdia em seus lábios pequenos tanto quanto as mãos, que foram interrompidas por um cortar de um fio de náilon, puxando meu pescoço para trás.
Nina gritava por ajuda. Quem quer que fosse, era forte e grande, pois conseguiu me erguer. Seu rosto, não podíamos ver, pois estava com o gorro do seu blusão na cabeça e amarrado para não cair e um lenço cobrindo a boca com roupas pretas.
Acertei minha cabeça contra a do agressor umas duas ou três vezes, coloquei meu corpo para o lado e acertei algumas cotoveladas; consegui me livrar e acertar um soco no olho do estrangulador, que rolou por cima do capô de um carro.
cotoveladas; consegui me livrar e acertar um soco no olho do estrangulador, que rolou por cima do capô de um carro.
Ajoelhei para pegar fôlego, vi que tentara correr para fugir. Rapidamente levantei-me, subi em cima de outro veículo e pulei em cima do bastardo, começamos uma briga, e com muitos socos consegui sacar minha arma.
Porém, pouco depois a vi escorregar para um bueiro depois de um soco certo no queixo. Caído de lado sobre meu braço direito, eu via os pés dele chegarem a minha cara com força duas vezes, até arrancar meu sangue.
O covarde fugiu. Com dificuldade fui atrás dele de novo até a rua augusta. Ainda pude ver ele na parte de trás do ônibus.
Nina correu até mim.

- Você esta bem?
- Sim, droga.
- O que foi?
- Eu tomei porrada, foi isso.
- Conseguiu ver o rosto dele?
- Não.
- Como ele sabia que você estava aqui?
- Talvez ele quisesse você morta, eu só estava no caminho.
- Acha que alguém pode estar querendo me matar também, eu quero dizer, a mesma pessoa que matou meu tio?
- Não se preocupe, não deixaria nada acontecer a você.

Nina abre um sorriso lindo, me dá um beijo e chama um táxi.
E coloca um cartão branco da boate com o número dela atrás no bolso do meu sobretudo.

- Para aonde você vai?
- Para casa.
- Pode ser perigoso, se quiser pode ficar comigo.
- Você disse que ia reunir todos, faça isso e me ligue, ou se preferir ligue antes (outro sorriso bem aberto).
- Tem certeza que ficará bem?
- Não se preocupe, meu Philip Marlowe*


Assim ela seguiu seu caminho, eu preferi seguir o meu andando.
Assim ela marcou meu lábio com beijos e socos na mesma noite.
Assim eu perdi meu 38, cabo de madeira, seis tiros.

No silêncio da minha sala de escritório naquela madrugada vazia, o veneno da doce Nina circulava mais forte em meu peito.
O elevador barulhento denuncia a chegada de alguém e no meu andar só podia ser o corrupto.
Apanhei um de meus dois revólveres reserva, uma Magnum prateada na gaveta, coloquei-a no coldre, levantei derrubando meu sobretudo em cima de Marshall.
Antes que o advogadozinho abrisse a porta empurrei sua cabeça contra porta, corri com ele contra a parede.
Virei-o para mim, agarrando seu pescoço e engatilhei o cão de minha arma colocando o cano em seu queixo.

- Você está louco? O que você está fazendo?
- Eu sei que você sabe quem fez isso hoje, corrupto.
- Do que está falando?
- Tentaram me matar hoje. Eu sei que você sabe algo a respeito
- Você perdeu o juízo, vou te por na cadeia por isso.
- Cala a boca e escuta. Eu sei que você trabalhava para Von-Sidonw, e eu sei que você sabe de alguma coisa e sabe quem foi o maldito filho de uma figa desgraçado que tentou me estrangular hoje. Então não venha me falar de cadeia.
- Você não sabe de nada crioulo, baseado em que me acusa?

Afasto-me lentamente e só guardo a arma depois de respondê-lo.

- Pelos seus olhos, pelos seus olhos eu vejo culpa, e eu vou descobrir.

Enquanto me afastava pude ver o ambiente ao meu redor e essa era minha principal intenção, além de ver sua reação. Pude ver que sua sala era uma bagunça e alguns remédios para urticária crônica.
Pode ver as lágrimas nos olhos dele sem se mexer ou arrumar seu terno. Digna postura de quem sabe de alguma coisa, e eu vou descobrir.

A reposta a sua porta espreita

No dia seguinte a mídia já sabia do corpo achado. Quando pus meus pés para a rua uma multidão de câmeras e microfones me rodeava. Algum repórter tirou um foto minha beijando Nina e uma minha brigando na rua, e a matéria era: detetive do caso Von-Sidonw agride cliente de sua namorada, que é uma garota de programa. A mídia constrói mentiras.
Com seus flashes de fotografias e empurra-empurra, eu mal podia entender o que falavam.
Eu estava em todos os jornais, aparecia mais do que o caso. Não sei se a mídia queria me redesenhar como um herói ou se esperavam meu fracasso para montarem um vilão.
O que eu sei é que a mídia, as fotos e todo esse barulho, eram mais arma ao inimigo do que ao caso.
Isso desviava o foco de um verdadeiro criminoso para um culpado televisível.
Agora meu tempo era curto, eu tinha que ter uma resposta rápida, pois o verdadeiro culpado sabia que a reposta a sua porta espreita.
Na minha sala junto com Erick eu analisava a foto e matéria que sairá no jornal com uma matéria falando sobre mim. A foto não era boa, pegava Nina e eu, o carro a nossa frente o reflexo de uma moto no espelho retrovisor do carro e a banca de jornal. Na verdade, mais parecia uma propaganda do carro, que ficou em melhor plano. Abro a gaveta e pego uma lupa para ver melhor certos detalhes. Peço para Erick ampliar a foto e se preparar, hoje iríamos encontrar os filhos do milionário em um clube aquático, que eles costumavam freqüentar.

Lá estão os três, conversando tranqüilamente, nesse clube aquático particular de “filhinhos do papai”.
Possivelmente o mais velho devia ser o de cabelos claros, cavanhaque, e óculos escuros, era o único tomando água e com uma inquietude nas pernas e mordendo os lábios, o que indica ter usado cocaína há pouco.
Bruno tomava cerveja no gargalo e estava vestido socialmente, o que me mostra a primeira imagem, ser um pouco mais responsável, e talvez o único que trabalhe.
E finalmente a mais nova, a caçula da família, Isabela, com um biquíni azul e protetor solar no rosto, mal olha para os irmãos para conversar, o que indica uma grande falta de personalidade.
Tiro um lenço do bolso e enxugo meu suor em baixo do chapéu, pois fazia muito calor, mas não abro mão do meu estilo detetivesco, com meu sobretudo e chapéu.
Aproximo-me, puxo uma cadeira e viro-a ao contrário, e sento com as costas da cadeira para frente.
Erick repete os meus gestos com a cadeira, e minha frase na apresentação.

- Ola, garotos.
- Ola, garotos.
- Garotos e uma garota (Erick fala baixo para mim).
- Erick por que não busca alguma bebida para nós?
- Tudo bem, posso pegar duas cervejas?
- Claro, duas cervejas para mim e um suco de laranja sem açúcar para você.

Bufando, Erick vai buscar as bebidas.

- Então você é o tal detetive?
- Sim, sou eu, e você deve ser Bruno? Certo?
- Como meu pai morreu?
- A necropsia investigativa não está concluída, Isabella.
- Mas você suspeita de assassinato? Porque se não é conclusiva então pode ter sido outra coisa. Como causa natural.
- Lamento dizer isso, mas não foi, Arthur.
- E quem é esse?
- Meu nome é Erick, e estou ajudando no caso com Max.
- Obrigado pela bebida Erick.
- Disponha Max.
- Então Isabella, você ficou fora por três anos. Três anos sem ver ou dar noticias ao seu pai correto? Somente se comunicando com sua mãe.
- E maravilhosos três meses antes do sumiço de Von-Sidonw você volta. Posso saber o porquê?
- Eu estava de férias, fora do país por pedido da minha mãe, não tinha muito porque falar com meu pai.
- Ele sempre foi ausente.
- È, mas você nunca deixou de aceitar os cheques que ele mandava para bancar suas diversões fora do país, né?

Isabella falava e falava, mas não levantava o rosto e me olhava diretamente, sempre mordendo os lábios, o que mostra desequilíbrio, então que vem a surpresa: depois de algumas críticas ao pai um choro forçado se lamentando e dizendo que o amava. O choro parava e começava quando ela queria, essa garota tinha com certeza seus problemas psicológicos. Talvez os três tivessem o mesmo defeito. Muito dinheiro e muito mimo.

- E você Bruno o que faz da vida?
- Me formei em contabilidade há um ano, e estou indo bem na área ate então.
- Mas desde que se formou há um ano não via seu pai, certo?
- Mas nós mantínhamos contato por telefone, todas as noites.
- Sim, claro.
- Erick, o que descobriu sobre essas ligações?
- Bom Max, parece que era sempre para falar do dinheiro da empresa e sobre direitos no testamento.
- Ah, então não eram conversas amorosas, todas as noites, meu caro Erick?
- Parece que não, caro Max.
- Eu tinha direito a algo na venda dessa empresa, eu dei a alma nela, e nenhum outro irmão ou parente trabalhou lá. Aquele testamento é uma bobagem e a mulherzinha dele e aquela prostituta da sobrinha iam sair ganhando, até a droga dos dois empregados iam levar alguma coisa.
Bruno se alterou com a pergunta, e batia o dedo com força na mesa para expressar sua raiva. A provocação de Erick e eu, o deixaram possesso.
O mais equilibrado tinha uma combinação de emoções explosivas. No mínimo perigoso para quem estiver no seu caminho. 
- Está limpo há muito tempo, Arthur?
Arthur me encarou sem responder pegou uma das minhas cervejas que ainda estava fechada, abrindo-a com os dentes e soprando de volta a tampa em minha direção
- Sei o que esta fazendo. Me diz senhor Max, por que não vai atrás do verdadeiro culpado? - Ou será que não consegue fazer isso? Você não tem nada, é um detetivinho de terceira classe, então pare de insinuar qualquer coisa a mim e aos meus irmãos.  E respondendo sua pergunta:
Arthur bebe toda a cerveja em um só cole.
- Eu posso controlar meus vícios, quando quiser.
- Que bom, estou impressionado.
Então repito seu gesto e viro todo o resto de cerveja que tenho na garrafa de uma só vez.
E rapidamente devolvo tudo em um cuspe em sua direção.
Os três se levantam indo para trás e derrubando as cadeiras.
Levanto-me calmamente.
- Ah, tsc.
- Bom, eu por outro lado não me controlo, nunca fui bom com bebidas.
- Ainda mais bebendo com três idiotas.
- Erick você pagou nossa conta?
- Não mandei marcar na conta deles.
- Ótimo.

Visto meu chapéu e dou as costas para eles, e Erick tira uma ultima foto das suas caras enfurecidas.

- Ate logo garotos
- E garota Max! (Erick fala em voz baixa).

A mansão de Von-Sidonw

Logo pela manhã pegamos meu Chevrolet 1939 preto no conserto e seguimos para mansão de Von-Sidonw.
Andava meio preocupado com Nina, ela não retornara nenhuma das minhas ligações, realmente não conseguia tirar ela da minha cabeça.
A Rua de Viktor, no Brooklin, era bem calma, dois vigias em cabines em cada esquina e poucas causas que ocupavam quase toda a rua.
Estacionei meu carro do outro lado, enquanto Erick pegava seus equipamentos de fotografia.
Fui atravessando aquela rua vazia, com flores das grandes árvores dos grandes jardins caídas no chão.
As grades de seu portão eram bem artesanais, nos muros acima duas carrancas de leões, cerca elétrica pelos altos muros, e dobermans nervosos faziam uma segurança a mais para a casa.
Um segurança com rádio e fone veio me abordar pelo portão, no mesmo instante que para a primeira blazer de reportagem próximo a casa. A presença da imprensa sempre me incomodava.

- O que você quer?
- Sou Max, detetive particular, preciso conversar com algum responsável pela casa, e dar uma olhada por ai.
- Não me interessa quem você é. Para mim você parece mais um repórter disfarçado.
- Claro, claro, agora vigão*, chame alguém para falar comigo. (Max fala enquanto ri do segurança).
- Não adianta apertar o interfone, eles podem te ver por essa câmera, se quisessem abrir já o teriam feito, não tem como chamar a atenção da Sra. Linnea.
- Ah, a ex-esposa se encontra então, bom isso me poupa muito trabalho, agora, por favor, vá falar com ela, por que esses repórteres ali, você aqui, vão acabar me tirando a paciência.
- Como eu disse não tem como chamar a atenção dela, então vire-se e dê o fora daqui, senão eu vou ai chutar sua bunda... Humm, tem um jeito de eu chamar a atenção dela.
- E como é?  

Max passa as duas mãos pela grade, agarra a nuca do segurança e bate sua cabeça três vezes contra o portão, ate desmaiá-lo, com o rosto marcado com as colunas da grade.
Os cachorros sentam imediatamente. Max sobe no portão e bate com a ponta do dedo na câmera, sinalizando para dentro da mansão e mostrando sua identificação, e bem pausadamente para lerem seu lábio diz: abra o portão.
Max desce, o portão abre. Erick então se aproxima.
- Erick, tira o corpo do vigão da frente vamos entra com o carro.

Seguia com o carro devagar, passando pelo jardim mais bonito que já tinha visto, tinha um canteiro na frente da entrada, fazendo a pista ficar circular.
Passamos por outros seguranças no caminho, só eu pude contar seis homens uniformizados.
A mansão era inteira branca, nem podia imaginar quantos quartos teria ali, ate que para um falido ele estava muito bem.
Descemos do carro e fomos até a porta, passando por uma pequena escada na entrada.
Quem nos recebe é uma senhora de aproximadamente 70 anos, muito simpática e com um avental no corpo que usava para limpar as mãos.

- Ola, entrem, por favor, a senhora Linnea Ida já ira recebê-los.
- Meu nome é Maria Helena esse é meu marido Jonathan.
- Prazer, sou Max Ventura e esse meu ajudante Erick. Que cheiro de café delicioso!
- Acabei de fazer, vou buscar um pouco para vocês.
- Bem senhor Max, acho que gostaria de dar uma olhada no cofre antes de falar com Linnea Ida, não?
- Por favor, seria ótimo.
- A propósito, adorei o jeito que deu naquele segurança, alguém tinha que dar uma lição naquele arrogante.
- Era o senhor que estava monitorando a câmera?
- Não, era a própria Linnea Ida, eu só tinha ido levar o café para ela, ela fica praticamente o dia todo na frente daquele monitor.

Enquanto Jonathan falava mal de todos da casa íamos subindo uma escada com tapetes vermelhos. Jonathan vestia um smoking antigo, mas muito elegante, e ele era tão simpático quanto a sua mulher.
Maria era uma mulher pequena de cabelos curtos e cheios, meio rosados, e um pouco gorda, exatamente o oposto de Jonathan, que era muito magro e alto e tinha os cabelos bem brancos.

Chegamos a um escritório de um estilo mais rústico, porém não menos impressionante, claro.
Livros da estante, um carpete vermelho com branco, duas poltronas, de frente para uma mesa de escritório, meio viradas, outra poltrona maior atrás da mesa, alguns quadros na parede, e uma grande janela com sacada escondida por uma cortina do teto ao chão.
Na mesa, dois copos com um pouco de alguma bebida dentro, possivelmente uísque aguado por causa do gelo derretido, algumas canetas num copo, um estilete de corte, um computador portátil, algumas papeladas sem utilidade, uma pequena marca de pedrinhas de areia amarela como as do caminho para a entrada da casa a frente da poltrona esquerda, e do lado direito o cofre embutido na parede ainda aberto e sem nada.

- Jonathan, quem achou o cofre aberto?
- Helena minha esposa.
- Sim, Débora havia citado.
- O que exatamente você fazia para Von-Sidonw?
- Nos bons tempos, nos tempos de muito lucro com sua empresa, eu era mordomo. Na época essa casa era cheias de empregados. Eu sei que ainda aparenta ter muitos, com os seguranças, motorista particulares, enfim. Mas acredite já teve muito mais gente nessa mansão. Viktor não era muito querido por seus empregados. Mas a empresa fechou e todos foram despedidos, agora faço de tudo um pouco para servi-los. E eu e minha Helena somos os únicos que trabalhamos dentro da casa.
Helena entra com uma bandeja com pequenas xícaras de café.
- Helena, como encontrou essa sala no dia que Von-Sidonw desapareceu?
- Bem, ela está praticamente do mesmo jeito, eu entrei vi a janela aberta fui fechá-la, e quando virei, vi o cofre aberto.
- Você sabe quem bebia com ele nessa noite?
- Mateus, seu advogado - Responde Linnea Ida, apoiada com a mão esquerda no batente da porta, com um como de uísque na mão direita e na mesma mão um cigarro, suas olheiras indicavam que havia dormido mal, e que chorava muito, suas varias bijuterias faziam muito barulho enquanto se aproximava. Seu cabelo era preto meio avermelhado, devia ter aproximadamente 50 ou 55 anos, ainda usava uma aliança de noivado, e um vestido de péssimo gosto, descalça com uma meia calça, cobrindo suas pernas e pés.
Também não devia ser a pessoa mais agradável do mundo pela cara dos dois empregados.
- O café estava horrível como de costume. - Então você é o tal detetive Max Ventura...
Notei nessa frase a mesma arrogância que tinha nos filhos.
- Sim, senhora.
- E eu sou Erick o fiel parceiro que ninguém sabe o nome.
- Devia prender aquela vadiazinha da Débora, sabe que ela tem um caso com meu marido não sabe?
- Sabemos que ela teve um caso, e que hoje ela é a mulher dele, e a senhora a ex.
- Não, isso é um erro. Alexsander logo vai voltar par mim.
-Não havia sido Nina a ultima a ver Von-sidonw?
-Sim, foi Nina (me responde Helena)
-Depois de conversar com Mateus, Débora entrou na sala para chamá-lo, pois Nina o esperava para levá-la a escola, Mateus foi embora nessa hora, Viktor ficou algum pouco tempo com os dois na sala, e saiu deixando-os ali.
-Deixando-os? No plural?
-Sim, Débora estava com seu amante, o Sr. Viktor confiava muito naquele rapaz afinal foi um dos primeiros e melhores funcionários que ele já teve na fabrica, e também quem apresentou Débora para Viktor.
-Ele não desconfiava do caso dela? Teria como ele de alguma forma ter suspeitado?
-Eu não acho que ele suspeitava de alguma coisa. Sabe, Débora era uma mulher de muitos homens, Sr. Max.

O telefone celular de Erick toca, era seu pai, capitão Salgama.
Ele queria falar comigo, nos precisávamos nos encontrar.
Pouco falamos pelo celular, logo desliguei dizendo que estava indo encontrá-lo.

-Bem precisamos ir, Erick. Obrigado pela ajuda de todos, espero reunir alguns de vocês logo aqui nessa sala, para conversarmos todos frente a frente.
-Jonathan, acompanhe-os até a porta.
-Sim senhora, Linnea Ida. Só espero que não desconfie do mordomo (brinca o ex-mordomo e atual faz tudo).

Pegamos o carro se seguimos em direção à região sul da cidade

-O que aconteceu Max?
-Não sei direito Erick, só que seu pai falou que precisava falar comigo, é algo sobre o caso. Mas ele não entrou em detalhes

Fomos ate o local marcado, próximo a um rio, em Santo Amaro na zona sul, havia muitos policiais, muitos repórteres e curiosos, o cheiro do rio era horrível.
De longe o pai de Erick nos cumprimenta, e diz para Erick esperar ali. Aproximo-me e apertamos nossas mãos.

-Olá “Marcos”
-É Max agora, Salgama.
-Claro. Max. Vai demorar um pouco para eu decorar isso. (com um sorriso no rosto e um aperto de mão firme me diz Salgama).
-Max eu não tenho boas noticias para você. O pessoal do DECRADI entrou em contato comigo, pois você não tem celular e ninguém atende no seu escritório. Por que você insiste em viver no passado, por que não compra um celular?
-Não me dou bem com essas parafernálias. O que aconteceu aqui?
-Bom, vem comigo, você tem que reconhecer alguém.

Caminhamos até um corpo próximo ao rio coberto por um lençol branco. Devagar seu rosto foi descoberto, então entendi porque não tinha respostas de Nina.
Finalmente aquela família tinha se livrado da doce Nina. Minha cara não escondia minha tristeza. Apesar de eu querer negar para mim mesmo o que já era claro antes de chegar ao corpo.
Não existia mais Nina para contaminar com seu doce veneno.

-É a sobrinha do Von-Sidonw, né? A do caso que você esta investigando?
-Sim é ela. Já sabem de alguma coisa?
-Possível suicídio. Ela foi achada boiando no rio pelo pessoal das embarcações de despoluição, e no fundo do rio achamos esse carro branco, pela placa foi fácil saber de quem era e que devia falar com você.

Pedi para ver novamente o corpo.
Retirei o lençol e olhei atentamente seu corpo pálido. Ela estava com um shorts curto, camiseta de alcinha branca, tênis sem meia brancos e estava sem maquiagem. Mas ainda assim continuava linda.
Não me parecia uma roupa que ela usava nas ruas e sim uma roupa de conforto, uma roupa para usar em casa.
Não havia marcas no corpo, só uma mancha verde abdominal do lado direito.
Cobri o corpo, peguei no bolso do meu sobre tudo as cartas de ameaça contra Nina, entre as oito cartas amassadas, abri a mais curta delas. Reli a carta e a dobrei outra vez, olhei diretamente para Salgama.

-H2S
-O que?
-Gás Sulfídrico.
-Do que você esta falando?
-Me faz um favor Salgama, manda umas viaturas para mansão de Von-Sidonw. Temos uma prisão para fazer.

Sem argumentar comigo o capitão organiza seus homens as viaturas saem e os repórteres os seguem.

Erick e eu entramos rápido no meu carro e tentamos pegar um atalho ate a mansão do milionário.

-Quem era Max?
-Era Nina.
-O que a policia falou?
-Suicídio. Afogamento
-O que você acha?

Quando virei meu rosto em direção a Erick para responder, uma Kombi VW azul claro com vidros fumê, bate contra nossa porta esquerda, onde está Erick, que está virado para mim. O vidro da janela quebrou sendo jogado em cima de nos dois e o carro arremessado contra um poste, quebrando também o vidro da frente do Chevrolet.
A Kombi vira, abre somente metade da janela esquerda. Não dava para ver quem estava dentro, pois estava zonzo pelo acidente, só pude ver o cano de sua arma para fora.
E só tive tempo de abaixar protegendo Erick em baixo de mim, enquanto a arma era descarregada.
Engatei a ré mesmo deitado e arranquei para trás, a porta esquerda do Chevrolet ficou no chão. Saquei minha 32 e descarreguei contra o outro veículo, que fugiu cantando pneus.

-Erick, desça, ligue para seu pai, passa a placa do carro e depois ligue para a lista de suspeitos, quero todos na casa de Von-Sidonw quando eu voltar.

Erick desce e do lado de fora me pergunta.

-O que vai fazer?
-Vou pegar o desgraçado.

Engato a primeira marcha, com o câmbio de caveira e sigo a perseguição em alta velocidade.
Entre algumas manobras e batidas de carros, onde algumas vezes emparelhei com o veiculo, disparando minha munição e tomando disparos em minha direção, até mesmo em uma das batidas de carro, pude ver a arma do vilão cair. E ainda assim continua a perseguição. Ele sem arma e eu sem munição.
Mais à frente, vejo a Kombi abandonada no meio da rua. Usando o freio de mão paro meu carro derrapando-o. Pego minha magnum no porta luvas, pois a minha 32 estava desmuniciada. Vasculho o carro, mas não havia ninguém.
Em cima da passarela da estação de trem pude avistar um homem correndo desesperado, empurrando a multidão.
Ele vestia o mesmo moletom de capuz cobrindo seu rosto que o agressor que tentou me estrangular quando estava no Nina na augusta usava.
Subo as escadas da estação correndo atrás dele, com o revolver na mão. Ele pula a catraca e posso vê-lo descendo as escadas quando eu me posiciono em posição de tiro triângulo (com um joelho no chão e outro no alto), aponto meu revolver Magnum em direção ao motorista encapuzado, que desce correndo as escadas. Não pude disparar porque havia muita gente na estação.
Um trem cargueiro passa pela estação, corro um pouco para o lado na passarela e posso ver o misterioso motorista segurando em um dos vagões para fugir.
Ele ergue um dos braços debochando de mim. E ainda assim não pude ver seu rosto.
Tomo distância e pulo da passarela ao cargueiro cheio de areia.
Demorei um pouco para levantar, eu já estava machucado com o acidente, e com a queda ainda perdi meu chapéu. Fui caminhando por cima de um vagão a outro, em um dos pulos fui surpreendido pelo motorista da Kombi, que segurou meu pé.
Minha arma escorregou para frente. Levanto e vou em direção a ela, mas ele me segura pela cintura e nós dois vamos ao chão. Em seguida ele me ergue, me derrubando de novo atrás dele, caindo os dois novamente. Ele tenta pegar a arma, mas ainda no chão eu o chuto e sua mão trisca na arma que corre um pouco mais à frente.
Ambos levantamos e começamos um combate corpo a corpo.
Todos meus socos são bloqueados com uma guarda muito fechada estilo boxeador, não consigo evitar levar seus golpes.
Um direto no queixo me fez desequilibrar e um cruzado de direita me fez cair.
Apoiei-me nas extremidades do trem, tentando subir novamente, mas eu não tinha força para me supinar.
Ainda sem ver o rosto dele, posso apenas vê-lo virar-se calmamente abaixar-se e pegar minha arma.
Lentamente o cão da arma é puxando para trás. Olho para minha direita e impulsionando com o pé me jogo longe do trem. Pude vê-lo olhar a sua esquerda e não ter tempo de desviar do túnel a sua frente. O trem segue viagem, ele não.
Levanto com muito sangue no braço, uma dor terrível na costela esquerda e mancando muito da perna direita. Pego minha magnum, guardo na cintura e agacho para ver seu rosto.
Desamarro o gorro e o retiro com as pontas dos dedos.
Um pouco a minha frente vejo Erick com seu pai mais um monte de policiais chegando a pé com armas na mão na minha direção.
O vento trás pelos trilhos meu chapéu, pego ele com um sorriso no rosto e coloco em mim.

-Max você esta bem?
-Estou sim Erick. Eu acho que ele não vai pagar o conserto do meu carro.
-Já comuniquei a família, eles devem estar esperando. Você quer ir para um hospital?
-Não, vamos para a mansão.

Seguimos de volta para a mansão na viatura do pai de Erick
Já havia alguns policiais na mansão, já outros ficaram na estação de trem.
Desci da viatura sob os flashes das máquinas dos repórteres. Coloquei meu sobretudo sobre os ombros, abaixei um pouco o chapéu.
Erick fez apoio para mim e devagar fomos entrando na mansão sem responder nenhuma pergunta dos repórteres. Antes de entrar, aceno para meu amigo vigão de cara marcada pela pancada no portão.
Dentro da casa havia mais policiais, subimos as escadas ate o escritório de Viktor Von-Sidonw.
Um policial que estava do lado de fora abre a porta para nós. Salgama entrou com a gente, todos estavam sentados menos Arthur que estava encostado na estante.
Caminho junto com Erick e encosto na mesa. Na sala se encontram Linnea Ida, a ex-esposa, os filhos Bruno, Arthur e Isabella, Débora a atual esposa, Douglas, o segurança de Débora, e também um pouco mais que só isso, Maria Helena e Jonathan, empregados da casa e Matheus o meu “amigo” corrupto.
-O que aconteceu com Nina? Ela se matou mesmo? Afogamento não é?
-Nina foi assassinada, Isabella. (certo espanto tomou conta da família).
-E seu assassino esta morto.
-Morto? Como? O mesmo assassino de Von-Sidonw é o de Nina?
-Respondendo sua pergunta Mateus, digamos que ele foi pegar um trem e acabou que um túnel o pegou.
-E não foi ele o assassino de Von-Sidonw. Mas foi ele que deu sumiço no corpo.
-Eu nunca teria provas para minha teoria, mas um erro no plano do culpado me deu a solução que nenhum advogado irá conseguir quebrar no tribunal. Nina foi encontrada boiando em um rio e junto dela havia um carro branco, que não tinha placa, apenas estava escrito Von-Sidonw, no lugar da numeração.
-O que isso prova? Esse carro sumiu junto do meu pai.
-Isso nada prova, Bruno.
-Alguém quis que todos pensassem que Von-Sidonw foi levar Nina e não voltou. O carro mais tarde é achado no rio com Nina próxima ao carro. Possível suicídio.
O que nos leva a pensar Nina o matou, motivo ninguém irá saber afinal Nina esta morta, certo? Além de matar, ela ficou com o carro, depois se arrependeu, não conseguiu viver com isso e se matou. Por que ficou com o carro? Para fugir, por que teria matado? Talvez ele tenha descoberto do que ela trabalhava, e por que se matou? Porque não conseguiu viver com a culpa. Mas isso tudo é uma grande mentira.
-Isso seria perfeito se não fosse pelo roubo do cofre. Alguém chegou antes e atrapalhou tudo. Quando deram por si não tinha nada no cofre.
-E baseado em que você diz que foi assassinato o que aconteceu com Nina?
-Baseado em H2S, Arthur.
-O que?
- H2S, Gás Sulfídrico. Nina tinha uma mancha verde no abdômen.
- Detetive, não estou conseguindo entender o senhor.
-Calma, Helena, eu vou explicar.
- Isso acontece com a queda dos sistemas encefálicos superiores, as unidades celulares permanecem algum tempo em funcionamento, formando catabolitos que vão acidificando o ambiente celular de tal forma que destrói a unidade celular.
 Esse processo chama-se de autólise, momento indelével da morte celular. Em início bioquímico da putrefação, entre 20 e 24 horas, o processo fermentativo bacteriano que existe no tubo digestivo passa a ser visualizável. Essa mancha verde abdominal ocorre na fossa ilíaca direita, pela proximidade ao local do apêndice vermicular, no inicio do tubo intestinal grosso. O que chamamos de pólo ascendente. É esse sinal que marca o inicio dos fenômenos transformativos destrutivos, pela fase cromática ou de coloração.  Essa é só a primeira fase dos destrutivos.  Esse processo acontece pela formação de um gás. Então família bonita? Alguém quer tentar um palpite de nome para esse gás? Hum? Alguém? Não?  Esse gás chama-se gás sulfídrico bacteriano (Max bate algumas palmas para si mesmo, só para debochar). Fórmula química conhecida como H2S. Esse gás, se combinado com a hemoglobina do sangue do “defunto morto” cria um novo composto esverdeado denominado sulfometahemoglobina.
- Não esquecendo que disse que a mancha verde acontece na fossa ilíaca DIREITA, e somente em casos de mortes extremas, como assassinato. Excluindo-se apenas os cadáveres de AFOGAMENTO. Que por sua vez apresentam a referida mancha na parte superior do tórax.  Então pergunto eu: como Nina se afogou? Ou melhor, se jogou com o carro ao rio para morrer?  Nina não fez isso. Ela foi jogada ali para acharmos que ela se matou. A mídia começa a dar muita atenção para mim, então se eu morresse logo depois de Nina, ninguém falaria mais de Von-Sidonw. A mídia divulgou duas fotos minhas, uma beijando Nina e outra brigando no meio da rua. Logo a mídia me transformaria em um monstro, a próxima matéria seria mais ou mesmo assim: Max mata namorada por descobrir que é garota de programa. E ninguém se importaria com quem é meu assassino, porque a mídia logo acharia outra manchete então todos se esquecem. Agora vou mostrar os erros nesse plano. Primeiro, eu vi Mateus com um homem na frente do seu escritório, a aparência desse homem era a seguinte: Algumas tatuagens de tinta esverdeada no pescoço e na mão, pele queimada do sol, barba mal feita e cabelo ruim como sua barba de aparência suja. As ondulações, no esqueleto de sua face, não negavam o uso de drogas.  Nina estava recebendo cartas com ameaças, e ela descreveu o mesmo homem com as mesmas palavras para mim, antes de nos fotografarem, e eu escondia um gravador em meu sobretudo, tenho tudo gravado. Toda a descrição que Nina me deu. Em uma das cartas amassadas que Nina me entregou estava escrito: “quero o dinheiro que roubou”.  Se Nina tivesse roubado ela nunca me entregaria essa carta. E ela não precisava de dinheiro, porque ela ia ganhar uma herança. Por que esse cliente do corrupto ai (Max aponta para Mateus) ia querer dinheiro de Nina? Alguém devia dinheiro para ele. Esse rapaz, que queria cobrar sua divida, é um vagabundo com uma imensa ficha policial, seu nome era Aldrey.
Ele atualmente estava fornecendo drogas para um terceiro ficar traficando. E alguém aqui tem uma dívida com ele, alguém deve muito dinheiro de drogas a esse criminoso que mandava cartas para Nina.
Von-Sidonw foi morto por envenenamento por um veneno colocado na sua bebida, da qual ele bebeu aqui no escritório, esse veneno chama parapterois, ele é retirado do veneno do peixe leão e colocada em pó, essa parte do peixe só mata se entra em contato com álcool e é praticamente imperceptível. Diferente do resto do veneno desse peixe.
Queriam que todos pensassem que foi Mateus que bebeu com ele, mas não foi Mateus.
Vi nos olhos de Mateus que ele sabia de algo. E sim ele sabia. Sabia do veneno. E entendeu que seria difícil explicar que não foi ele que colocou o veneno.
-Aldrey não era um cliente, e sim tentou pegar seu dinheiro até mesmo com Mateus. Eu, particularmente, desconfio que Mateus soubesse de tudo, até mesmo quem matou Von-Sidonw, mas se omitiu. Apesar de isso ser crime eu não posso provar.
- O fotógrafo que tirou fotos minhas e de Nina conseguiu, sem ser essa sua intenção, fotografar o espelho retrovisor do carro na nossa frente que refletiu uma moto com dois homens em cima dela. Na foto, o homem que está descendo da garupa da moto era Aldrey. Na foto ele esta descendo e ainda movimentando as mãos para colocar o capuz que cobria seu rosto. Ampliei algumas vezes a foto que esta nesse jornal e alem disso a placa da moto, então assim descobri quem é o drogado por de trás disso.
- Espera, espera. Eu juro que estou limpo, Mateus e eu estamos cuidando das minhas dívidas da época que eu usava drogas. Eu dou o dinheiro para Mateus e ele paga para mim, assim não tenho contato com esse mundo mais, eu juro que estou limpo, há muito tempo não vejo Aldrey.
- Eu sei, Arthur. O drogado não é você. Mateus nunca pagou nada, porque ele é um covarde. Mateus entregou para outra pessoa pagar e essa pessoa não pagou e fez negócio com Audrey. Por isso Aldrey foi atrás de Mateus querer seu dinheiro. Quando Mateus me olhou no corredor por cima dos ombros falando com Aldrey, eu não entendi na hora, mas ele estava com medo, por isso esfregava os dedos da mão, sinal de nervosismo e medo, Mateus àquela hora pedia socorro. A verdadeira pessoa que pegou o dinheiro e comprou mercadoria e depois pegou mais um monte de mercadorias só que dessa vez sem pagar nada... É seu irmão Bruno. Linnea Ida exigiu que Von-Sidonw pagasse essa divida e ele recusou. Bruno me deu a confirmação que precisava de dinheiro afirmando que discutia com seu pai sobre querer o dinheiro da venda da empresa. E eu gravei tudo com meu gravador no sobretudo. Mateus não podia ter tomado o uísque porque ele tem urticária, descobri isso quando entrei em sua sala eu vi sobre a mesa alguns remédios para urticária crônica. O álcool pode ser fator de gatilho de uma urticária ou apenas exacerbar por ser vasodilatador liberando substâncias que dão urticária. Linnea Ida tem problemas com alcoolismo, e ela bebeu com ele antes de Mateus chegar. Assim Linnea envenenou seu ex-marido para poder roubar seu dinheiro e ajudar seu filho Bruno a pagar suas dívidas de drogas. Não foi difícil chegar a Linnea Ida uma vez que ela, além de alcoólatra é uma especialista em vinhos e whiskys e em comidas exóticas, e o ponto alto nas comidas são frutos do mar, e até mesmo tem alguns bons livros publicados.
O único problema é que quando voltaram para o cofre alguém tinha roubado tudo. Se Audrey ficasse quieto e não matasse Nina e não tentasse me matar eu nunca teria chegado a essa conclusão. O erro foi desconfiar de Nina e tentar algo contra nós aquela noite, pois aquela foto entregou o caso, e o corpo de Nina foi o segundo erro, pois me entregou o argumento.
-Eu acho que ferrei vocês, eu os ferrei, Erick?
- È Max, acho que ferrou com eles.
- Ah, não foi sozinho, você ajudou.
-Imagina, ajudei?
-Ajudou.
-Ferramos vocês (os dois repetem juntos).

Em meio de protestos dos dois acusados e da família, em um descuido de um dos policiais, Bruno se solta das mãos dele e puxa Erick, pegando um estilete de corte em cima da mesa, fazendo-o de refém.
Com o estilete no seu pescoço, uma gritaria toma conta da sala. Os policiais e o pai de Erick tentam fazê-lo largá-lo com gritos e armas apontadas. Tento acalmá-lo assim como os familiares, até mesmo Linnea Ida, algemada tenta impedi-lo, porque não teria para onde fugir.
Bruno consegue chegar ao corredor longe da visão da família com uma imensa janela oval que pegava toda a parede no fim do corredor.
Consigo convencer os policiais a abaixar as armas, o mais difícil foi fazer o pai de Erick baixar a dele, mas no fim consigo um diálogo com todos.

- Bruno, acabou, não tem para aonde fugir.
- Eu merecia aquele dinheiro eu dei a alma naquela fábrica!
- Não é um problema meu. Agora você tem que resolver com o juiz em um tribunal. Nosso trabalho aqui acabou.
- Eu não posso ir preso, eu não vou preso (Bruno repete várias vezes chorando e afastando a lâmina e aproximando de novo do pescoço de Erick).
- Mateus vai defender a causa com certeza, agora é hora de resolver termos legais com seu advogado, não tem como sair daqui, você só esta piorando seu caso.
-Eu não posso ir preso (Bruno continua a repetir sem parar).

Erick vira a câmera que esta em seu pescoço lentamente e o flash da sua última foto para o caso irrita os olhos de Bruno e o afasta. Erick o afasta mais ainda com uma cotovelada no rosto, e rapidamente se agachando próximo à parede a sua esquerda.
Antes mesmo que qualquer policial dali eu saco minha magnum e com um único tiro atravesso seu peito o jogando através da janela oval.
Pai e filho se abraçam e não ouço nada, só o grito silencioso de dor de Linnea Ida, ainda algemada e tentando correr para acolher Bruno.
Mesmo sem ver, ela sabia para que direção foi aquele tiro, gritos de dor e arrependimento de uma mãe que misturou sua proteção materna com uma pitada de vingança por ser traída.
Do lado de fora a imprensa não parava de incomodar, mas respondi apenas uma pergunta.

- Com esse casso já resolvido, o que vai fazer agora Max?
- Depois de sair do hospital, tomar um bom copo de uísque.

Ando um pouco mais à frente, vou entrando em uma viatura para ir ao hospital.

- Max?
- Erick.

Apenas nos olhamos e cumprimentamos com a cabeça.

- Até amanhã chefe?
- Amanhã, é outro dia de trabalho.

Voltamos a nos cumprimentar só com a cabeça, mas agora com um sorriso no rosto, e eu entro na viatura e sou encaminhado ao hospital.

Outro dia, um outro caso

Estava parado na esquina da Av. Paulista com a Brigadeiro.
Olhando o prédio onde estava o “apê” que aluguei no 15º andar.
Fazia muito sol àquela manhã, com o braço enfaixado e um pouco arrebentado atravesso a rua, mais uma vez meu Chevrolet 1939 preto estava no mecânico. Meu carro mais ficava lá do que comigo.
Seu Sidney abre a porta para mim como de costume, ele não estava de uniforme e seu sapato caríssimo para um vigilante, brilhava tanto que quase podia me ver nele.

- Bom dia seu Sidney
- Bom dia detetive Max, faço questão de apertar sua mão, é a ultima vez que abro essa porta, estou velho, e é chegada a hora de eu tirar umas férias, e gastar, e viajar, e namorar (risos). Quero te dar os parabéns pelo caso, sem você ninguém conseguiria nada. O grande detetive Max Ventura, daqui para frente os casos não irão parar de aparecer para você.
- Espero que sim, seu Sidney. E você para onde vai?
- Quem sabe? Tantos lugares para conhecer. Bom, estarei pelo mundo - me responde seu Sidney sempre muito simpático com um sorriso no rosto.
- Max, aquele garoto ficara no meu lugar aqui. Seu nome é Fabio.

Seu Sidney me mostra um rapaz de aproximadamente 35 ou 40 anos um bigode fino e ultrapassado, cabeça raspada sem nenhum cabelo e muito magro, não tinha nem de longe a aparência simpática de Sidney.
Aperto a mão de seu Sidney, e antes de subir posso ver o corrupto, sempre com seu guarda-chuva, esperando o elevador. Mas dessa vez eu o deixo subir antes de mim e vou de escadas.
Dentro de minha sala, coloco comida para o Marshal e pego a ficha do meu primeiro caso.
Então vejo novamente na porta de minha sala, Débora. Com um aparência bem melhor, cabelos soltos somente com uma parte em cima presa, seus óculos escuros na mão e faziam contra cor com suas luvas brancas, um vestido não muito diferente do vermelho, mas esse era verde e saltos altos pretos combinando com a faixa preta que passava na altura da cintura do vestido.
Ela segurava um envelope.

- Oi, Max.
- Como esta hoje, Débora?
- Bem melhor - ela se aproxima e se senta em frente a minha mesa.
- E seu namorado? Douglas?
- Era hora de acabar com tudo, não preciso mais dele. Na verdade vim agradecer e pagar o resto do dinheiro. Apesar de não temos combinado nenhum valor, acho que isso paga tudo.

Olho dentro do envelope e vejo o montante de dinheiro que tem ali dentro.

- Deve ter uns dez mil aqui.
- Você merece... E aquele menininho também.
- Mas tem uma coisa que não consegui descobri.
- O que?
- Com quem ficou o dinheiro do cofre. Alguém que não sabia dos planos maquiavélicos da mãe e do filho, acabou se dando muito bem, somente sendo oportunista.
- Eu queria saber o que tinha acontecido com Alexsander, meu marido. E você me deu a resposta pela qual eu te procurei. Se for ver, todos saem ganhando, mesmo com o silêncio sobre o dinheiro.
- E o que vai ser agora de você?
- Bom agora vou tira umas férias, gastar, viajar e namorar. (risos).
- É, acho que eu deveria fazer igual todo mundo esta fazendo. (os dois dão risadas).
- Obrigada Max.

Eu a comprimento com a cabeça enquanto ela agradece se levantando. E se despede dizendo ‘ nos vemos uma outra hora’, e eu repito o mesmo.
Levanto da minha mesa olho para o dinheiro em cima da mesa, olho para fora pela janela, Marshal sobe na mesa e lambe as patas ao lado do dinheiro, separado em notas de cem.
E de repente foi como se desse um estalo em minha mente. Tentei alcançá-la, mas parece que eu estava sempre a um segundo de atraso dela.
Pude ver a ponta do vestido cruzar a porta para o corredor e ver a porta do elevador.
Corri pelas escadas pulando alguns degraus para chegar antes do elevador.
Quando cheguei ao térreo, o elevador estava vazio. Corri o mais rápido possível para a avenida, e acabei torcendo o pé esquerdo, afundando o pé onde antes tinha uma poça de água, naquela calçada, agora estava só um buraco.
Mas não consegui alcançar Débora. No meio da avenida havia uma peruca loira, e atravessando a Av. Paulista a toda velocidade uma Ferrari vermelha conversível, um homem dirigindo e uma morena erguendo os braços e depois as pernas e em seguida abraçando e beijando o rosto do motorista, na placa do carro dizia “Marsú”.

-Hei, Fabio, não é?
-Sim.
-Você viu uma loira alta bonita saindo?
-Sim
-Com quem ela estava?
- “Óia”, senhor eu nem acreditei quando eu vi. Mas ela beijou a boca daquele senhor. Sabe? Aquele que trabalhava aqui? Então, ela o beijou e foram embora em um carrão.

Só me restou me afastar com a peruca na mão rindo, voltei para frente e perguntei ao novo funcionário.

-Tem algum livro de registro dos funcionários?
-Eu não tenho acesso a isso, mas o crachá de Sidney esta aqui se é isso que quer saber?
- Deixa-me ver?

Olhei o nome completo se seu Sidney e como eu pensei, não havia sobrenome Marsú, como o de Débora, já que ele disse que ela era sobrinha dele.
Subi para minha sala, Erick entra.

-Erick se apresenta para mais um dia de trabalho chefe.

Pego a ficha de casos. Erick senta em frente à máquina de escrever, para escrever um dossiê sobre o caso, que eu ia narrar para ele dizendo o que faltou concluir.

-De repente me veio um flash na mente. Helena havia dito que Von-Sidonw confiava muito no amante de Débora, porque ele tinha sido o melhor e um dos primeiros funcionários da fábrica de sapatos. Para ser um dos primeiros, esse funcionário não poderia ser o Douglas, tinha que ser alguém mais velho, e eu nunca notei a marca de seus sapatos caros. De uma marca que até então eu não conhecia, pois nunca achei que deveria saber tudo sobre sapatos no meu ramo, apesar dos meus vários livros sobre uma imensidão de coisas que sempre me disseram que não precisaria saber na minha profissão, tais como necropsia avançada, culinárias exóticas de frutos do mar e psicanálise, tudo sobre Lacan e Freud. Nunca pensei que deveria saber tudo sobre sapatos (com certeza será o próximo livro em minha estante). A marca era selada com uma prensa na língua do sapato escrito V.S.
Ou seja... Von-Sidonw.
Brilhante... Me contratou, pois assim não desconfiaria dela, quando tudo acabasse a atenção estaria voltada para Von-Sidonw e não para o roubo e assim ela teve tempo de comprar carro no nome de solteira, e provavelmente alguma passagem para qualquer parte do mundo. Talvez por estar com a cabeça pensando em Nina não percebi vários sinais óbvios, mesmo quando falei hoje com seu Sidney ou Débora. Por exemplo, quando Sidney disse que sem mim ninguém teria conseguido nada, quando ele disse isso ele estava se referindo a ele mesmo e a Débora, e também Débora ter dito que no final todos saem ganhando mesmo com o silencio sobre o dinheiro. Afinal seu Sidney e Débora de certa forma me ajudaram, pois a polêmica no caso vai me dar muitos outros casos, como o seu Sidney mesmo falou: os casos agora não vão parar...
E assim fui narrando para Erick os detalhes que me levaram a concluir que quem estava com Débora quando Von-Sidonw saiu pela ultima vez de casa, na hora que o milionário foi levar Nina para o suposto estudo dela, não era Douglas, ele era só uma distração, como Helena disse. Débora não é mulher de um homem só. Desde o começo Sidney deve ter armado o golpe ao cofre, onde por ser um homem de confiança do milionário deve ter visto muitas vezes ele abrir e fechar. E foi ele mesmo que apresentou Débora para Von-Sidonw, segundo Helena.
Assim que a empresa faliu ele veio para cá e teve tempo para armar tudo e casar o velho milionário com sua falsa sobrinha.

Na ficha do caso, só faltava colocar solucionado ou não.
Poderei colocar o carimbo de caso solucionado, porque na verdade eu solucionei o desaparecimento e fui além, descobri o assassinato e ainda o assassinato da linda Nina.
Olhando por esse lado... Caso solucionado, eu não fui contratado para descobrir nada disso sobre assassinato, sobre o assassinato de sua sobrinha e sobre o sumiço do dinheiro e sim sobre o sumiço e Von-Sidonw. E isso em questão eu solucionei. Mas não solucionei todo mistério, então em minha opinião é o mesmo que nada. Então o carimbo que leva a minha primeira missão é de caso não solucionado.
Agora era só sentar e esperar, outro dia, um outro caso.
 J.P.DONÁ (PIT-BULL)
 
*O sobre nome Ventura na verdade é uma homenagem ao coronel aposentado da policia militar. O coronel Ventura, herói nacional que tive a honra de conhecer e aprender com ele sobre a revolução de 32. Diferentemente do que é citado na historia.
*Raymond Chandler (Chicago, 23 de Julho de 1888 — La Jolla, 26 de Março de 1959), foi um romancista e roteirista dos Estados Unidos. Exerceu uma influência imensa no gênero dos romances policiais modernos, especialmente no que diz respeito ao estilo da escrita e nas atitudes que atualmente são características do gênero. Seu protagonista, Philip Marlowe, juntamente com o Sam Spade de Dashiell Hammett (ambos interpretados no cinema por Humphrey Bogart), é considerado praticamente um sinônimo do "detetive particular".
Além de sua obra em prosa, também foi autor de diversos poemas.
*Philip Marlowe é um personagem fictício criado pelo escritor Raymond Chandler para protagonizar um série de histórias policiais. A estréia do detetive particular Marlowe foi em The Big Sleep, publicada em 1939. Contudo, muitas das primeiras histórias de Chandler foram republicadas anos depois, mudando-se o nome do protagonista original para Philip Marlowe; isto foi feito provavelmente com a aprovação de Chandler.
Philip Marlowe apareceu numa onda de publicações populares explorando contos ficcionais sobre crimes, surgida nos Estados Unidos da América em meados dos anos de 1920. Uma das mais conhecidas publicações desse tipo foi a revista Black Mask, já notável por ter sido ali que surgiu pela primeira vez os detetives de Dashiell Hammett, The Continental Op e Sam Spade.
Marlowe é beberrão, tem uma atitude contemplativa e filosófica. Ele gosta de xadrez e poesia. O detetive não teme riscos físicos nem de usar violência quando necessário. Moralmente correto, ele encontra em suas aventuras várias "mulheres fatais" (femme fatale) como Carmen Sternwood de The Big Sleep. Chandler se esforçou em desenvolver uma forma de arte em suas histórias policiais.
The Big Sleep foi publicado quando Chandler tinha 51 anos; sua última novela, Playback, aos 70 anos. Todas as oito novelas do criador de Marlowe foram escritas nas duas últimas décadas de sua vida.
*Tupikos É uma palavra grega para típico, termo usado em investigações.
J.P.DONÁ (PIT-BULL)

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